quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Justiça - *Samantha Buglione


Recebi esse texto de uma pessoa muito querida.  É sensacional!




A justiça é feminina e é divina. A grega, Diké, é simbolizada pelos olhos abertos, uma espada e uma balança. A romana, Ius, tem os olhos vendados, não tem espada, mas segura a balança com duas mãos. As imagens representam a importância da sabedoria (olhos abertos dos gregos), do equilíbrio, da equidade, da proporcionalidade (balança) e da imparcialidade para se pensar justiça. 
Para Ihering, “a justiça tem numa das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal, a balança sem a espada é a impotência do direito” (dê uma olhada na imagem da Justiça na frente do STF e tire suas conclusões). 
De Aristóteles a Rawls, a imparcialidade e a proporcionalidade continuam como elementos básicos de um dos temas mais debatidos e complexos da filosofia e do nosso cotidiano. Afinal, como distribuir bens escassos, como vagas na universidade e riqueza, de forma justa? Se Aristóteles distribuiria de acordo com a finalidade dos bens e dos sujeitos (thelos), tendo como referência a natureza, Rawls se apoia na razão pura de Kant e em um contrato formado por ignorantes. Explico: para Rawls, a única forma de um “contrato social” ter validade é se as regras do jogo forem feitas por sujeitos que ignoram sua posição no jogo. Caso contrário, o contrato será resultado de um embate de interesses, poder e contingências. 
O desafio é fazermos regras não representando nosso grupo de interesses ou a nós mesmos, mas pensando no todo, pensando que não sabemos nossa posição no jogo. A igualdade formal deve estar realizada neste momento porque, depois, na distribuição dos bens, é preciso considerar as diferenças, afinal, não somos e nunca seremos iguais. Há algo que chamamos de loteria da natureza, uma loteria que não é justa ou injusta, moral ou imoral, apenas é. Mas essa loteria nos faz diferentes e isso não pode ser esquecido. 
Do resultado de um acordo efetivamente imparcial, para Rawls, teremos dois princípios básicos que serão critério para distribuir a justiça: 1. Respeito aos direitos individuais, ou seja, todos têm igual direito à gama de liberdade de todos; e 2. Aceita-se a desigualdade se os menos favorecidos forem beneficiados. Rawls é contra um igualitarismo como Cuba ou do tipo que se quer impor no Brasil, por uma razão básica: não seria justo e, tampouco, haveria incentivo. O que faria alguém dedicar anos de estudo e assumir algumas responsabilidades, como ser juiz, se ao final ganharia a mesma coisa que os servidores ou o motorista do prédio? Fica a incômoda pergunta e o constante desafio de pensar justiça. (p.32) 

*Doutora em ciências humanas, jurista e professora.
(13/11/2012)

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