A vida
dele nunca foi fácil. Gostava de rock. Era o estilo que transformava a opressão
que sofria em energia pra reagir, saltar, dar cabeçadas e socos no ar. E essa
era toda sua rebeldia. Sem álcool, sem drogas, sem dinheiro, sem convites para
festas e lugares.
O rock
lhe salvava de qualquer violência sofrida ou melancolia oportunista. Em sua
mente compunha contos fabulosos onde sob a violência dos acordes tornava-se um
herói de si mesmo, seu próprio defensor. Não entendia piorra nenhuma do inglês
gritado pelos americanos. Fora algum refrão, tudo era um emaranhado
ininteligível, uma gritaria enfurecida, uma extravagância charmosa e sedutora.
Gostar de rock, para ele, e para alguns, era ser ferrado na vida com estilo.
Um dia
foi espancado violentamente. Levou tantos socos na cabeça que por fim já não os
sentia. Não havia a quem apelar. E quem poderia lhe ajudar se acovardava. Após a
surra, após a saraivada de golpes sobre sua caixa craniana, a entidade
monstruosa fartara-se em desferir pancadas, tinha as mãos inchadas pelo impacto,
precisava descansar. Foi então que ele teve um momento de trégua. Com um curto
circuito labiríntico, com a cabeça dando pau, arrastou-se pelo corredor inteiro
até o quarto. Fechou a porta, trancou-se. Estava a salvo. Aquela porta não
cairia naquele dia. Ao menos ele assim cria. Ergueu o som sem se importar com a
mão determinada (mesmo inchada) que agora veio deitar murros na porta de seu
quarto. Que esmurrasse a porta. Nada mais importava. Quando a dignidade fica em
um canto do corredor, é hora de juntar os cacos. Já estava em posse do antídoto
para aquele veneno todo, era só aumentar o volume. E no mais, antes murros na
porta do que em sua cabeça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário