sexta-feira, 30 de março de 2012

Texto do blogueiro Jefh Cardoso

A vida dele nunca foi fácil. Gostava de rock. Era o estilo que transformava a opressão que sofria em energia pra reagir, saltar, dar cabeçadas e socos no ar. E essa era toda sua rebeldia. Sem álcool, sem drogas, sem dinheiro, sem convites para festas e lugares.

O rock lhe salvava de qualquer violência sofrida ou melancolia oportunista. Em sua mente compunha contos fabulosos onde sob a violência dos acordes tornava-se um herói de si mesmo, seu próprio defensor. Não entendia piorra nenhuma do inglês gritado pelos americanos. Fora algum refrão, tudo era um emaranhado ininteligível, uma gritaria enfurecida, uma extravagância charmosa e sedutora. Gostar de rock, para ele, e para alguns, era ser ferrado na vida com estilo.

Um dia foi espancado violentamente. Levou tantos socos na cabeça que por fim já não os sentia. Não havia a quem apelar. E quem poderia lhe ajudar se acovardava. Após a surra, após a saraivada de golpes sobre sua caixa craniana, a entidade monstruosa fartara-se em desferir pancadas, tinha as mãos inchadas pelo impacto, precisava descansar. Foi então que ele teve um momento de trégua. Com um curto circuito labiríntico, com a cabeça dando pau, arrastou-se pelo corredor inteiro até o quarto. Fechou a porta, trancou-se. Estava a salvo. Aquela porta não cairia naquele dia. Ao menos ele assim cria. Ergueu o som sem se importar com a mão determinada (mesmo inchada) que agora veio deitar murros na porta de seu quarto. Que esmurrasse a porta. Nada mais importava. Quando a dignidade fica em um canto do corredor, é hora de juntar os cacos. Já estava em posse do antídoto para aquele veneno todo, era só aumentar o volume. E no mais, antes murros na porta do que em sua cabeça.

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