José Francisco dos Santos
Filósofo e Professor
No
último sábado, dia 14 de julho, comemorou-se o aniversário da Revolução
Francesa, um dos episódios mais significativos da história ocidental. A data
lembra o dia em que o povo enfurecido invadiu a prisão da Bastilha, no centro
de Paris, com extrema violência, o que desencadeou a fase mais dramática da
revolução. Por que o episódio é tão significativo?
A
França, como toda a Europa, vivia uma divisão arcaica de grupos sociais, em que
se destacava o eterno privilégio da nobreza em detrimento da massa popular.
Essa crença de que algumas pessoas são superiores por natureza e que as demais
devem servi-las e obedecê-las é muito antiga, mas começou a ser posta em xeque
com a filosofia iluminista do século XVIII. No ano de 1789, os deputados que
representavam as classes baixas (o chamado Terceiro Estado) se reuniram à
revelia do rei, da nobreza e do clero, para fazerem a primeira Constituição da
França, intentando colocar a nação no rumo da democracia pregada pela filosofia
liberal dos iluministas. O rei Luiz XVI ameaçou atacar a chamada Assembleia
Nacional, e o povo se organizou para proteger seus deputados, o que levou à
invasão da Bastilha, onde estavam os estoques de pólvora. Pela primeira vez, vemos
a massa popular enfrentar o poderio de um rei absoluto e de seu exército.
Animados pela reação popular, os deputados concluíram a tal Constituição, a
famosa “Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão”, cujos artigos
formam a base das constituições de todos os países democráticos.
Mas
há mais lições além dessa a tirar do episódio. A primeira é o fato de que o
povo se livrou da tirania de Luiz XVI para cair nas mãos de um tirano muito
mais sanguinário, o líder popular Maximilien Robespierre, que implantou um
terror nunca visto no país. Depois da queda e execução de Robespierre, não
demorou para que Napoleão Bonaparte assumisse o controle do país, com poderes
iguais ou maiores que o rei anteriormente deposto. Ou seja, a sonhada
democracia ainda demoraria muito para ser implantada.
Mais
de duzentos anos depois, consideramo-nos herdeiros dos ideais de liberdade e
igualdade da Revolução Francesa, mas ainda não somos cidadãos de uma democracia
plena. O que mais enfraquece uma democracia é a desinformação e o desinteresse
dos cidadãos. Quanto mais gente houver nessa situação, mais fácil fica a vida
dos abutres, que compram votos, iludem o eleitorado e perpetuam a si e aos seus
interesses no poder. Desse modo, a política se deteriora e a luta dos que
dedicaram a vida pela nossa liberdade de escolha se torna vã. A corrupção é um câncer que destrói os ideias
democráticos, reduzindo-os a meras formalidades.
Não
existe democracia efetiva sem a observância das leis. Portanto, a ética e a
conduta correta na vida pessoal e pública precisam ser os baluartes de quem
pretende representar o povo e governar-lhe. O problema é que estamos tão
saturados de escândalos e falcatruas, que muitos já começam a pensar que isso é
normal. Mas não é e não podemos deixar que assim se torne. O bastão agora é
nosso, e a nossa derrubada da Bastilha consiste em assumirmos que somos e
queremos ser honestos, e não deixarmos que uma minoria espúria nos transforme
numa nação de bandidos. Ou será que o câncer já nos atingiu também?
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