José Francisco dos Santos
A
guerra sempre foi uma constante na história da humanidade. Desde as disputas
pelo fogo, no paleolítico, até os intermináveis conflitos contemporâneos
motivados por interesses econômicos, posse de territórios ou divergências
religiosas, a humanidade parece ter se construído à base de tacapes, espadas,
lanças, mosquetes, canhões ou bomba atômica. A formação de um exército forte
sempre esteve entre as principais preocupações dos governos em todas as épocas.
Para a cultura antiga, a guerra funcionava para os indivíduos como hoje
funcionam, por exemplo, os esportes, como ocasião de mostrar força, brilho,
honra. Para o jovem grego da época homérica ou clássica, morrer em batalha era
a honraria maior a que poderia aspirar. Isso fez de guerreiros geniais como Alexandre,
Aníbal, Júlio César, Átila ou Napoleão algumas das figuras de maior destaque na
história.
O
século XX ficou marcado pelas duas grandes guerras e pela chamada “guerra
fria”, que nos deixou no fio da navalha por várias décadas. O século XXI
começou sob os auspícios da guerra contra o terror, que ainda se prolonga, além
de conflitos intermináveis como o que divide árabes e israelenses.
Num
cenário assim, falar em cultura da paz parece como querer tocar violino em
baile funk. A ONU promoveu uma década dedicada à cultura da paz, de 2001 a
2010, buscando difundir ações de cunho educativo, que pudessem reverter essa
aparente vocação belicosa que nos assombra. Como as ações no campo da educação
levam um tempo considerável para mostrarem seus frutos, ainda teremos que
esperar para avaliar melhor os efeitos dessa iniciativa.
Mas,
se olharmos ao nosso redor, perceberemos o quanto carecemos ainda dessa
cultura. O problema é que a guerra não é apenas um problema de política
internacional. A cultura da guerra começa dentro de cada um de nós, a partir do
momento em que optamos por resolver nossos conflitos, pequenos ou grandes, na
base do confronto e da beligerância. As causas fundamentais da cultura da
guerra continuam morando dentro de nós. Desde as figuras emblemáticas de Abel e
Caim, que representam a humanidade em conflito, não parece que tenhamos
evoluído de modo significativo na maneira de conviver com o que é diferente,
com o que não obedece aos nossos padrões, com o que contraria nossos
interesses. Isso começa na família, alarga-se com os colegas de escola e de
trabalho, nas relações comerciais e em todos os âmbitos da vida social. Se não
soubermos equalizar nossos conflitos mais simples e resolvê-los através do diálogo,
não nos diferenciamos dos “senhores da guerra”, que promovem invasões e
matanças em larga escala. A diferença é que não dispomos dos meios e do poder
que eles têm.
Tenho
visto a intolerância se exacerbar, apesar de alguns avanços aqui e ali no
respeito aos direitos de todos. O bulling
nas escolas e aquele que se manifesta no mundo virtual, as constantes brigas de
trânsito e tantas outras manifestações da cultura da guerra não nos deixam
muito otimistas quanto ao futuro.
A
paz precisa começar dentro de nós, e daí se espalhar através dos nossos
relacionamentos, das nossas atitudes. Ser pacífico não significa ser tolo ou
subserviente. O homem mais importante do século XX promoveu a independência do
seu país em relação a um poderoso império pregando e praticando a
não-violência.
Fonte: http://www.municipiomais.com.br/site/
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