terça-feira, 1 de maio de 2012

Medo e Respeito - Profº José Francisco dos Santos


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José Francisco dos Santos
Filósofo e professor

Quem trafega pelas ruas da cidade percebe todos os dias a imensa desconsideração que motoristas e motociclistas têm pelos pedestres.  Nas faixas, mesmo nas passagens elevadas ou sob chuva, o pedestre precisa ficar à espera, até que o fluxo de veículos cesse ou que alguma alma caridosa se decida a cumprir a lei, correndo ainda o risco de ser atropelado na outra faixa, por outro motorista que só que saber da  própria pressa.
Mas na semana passada eu me surpreendi com a gentileza repentina num dos cruzamentos do centro. Até um motociclista aguardou, solícito, que uma senhora chegasse à faixa para atravessar. O mistério se desfez logo: havia dois policiais militares postados na esquina, a poucos metros da referida faixa. Por que o respeito à lei e ao outro ser humano não podem se manifestar na ausência de uma autoridade, que nos lembra da sanção pelo erro?
Nosso trânsito reflete bem como a impunidade cria em nós uma cultura de desrespeito. O mesmo se passa nos demais setores da vida. Não estou afirmando que todo mundo precisa de chicote para respeitar a autoridade e seguir as leis. Isso depende muito da índole de cada um. Mas mesmo os mais propensos à virtude e ao respeito estarão expostos demais sem autoridade alguma que lhes provoque, de algum modo, algum tipo de medo e receio. Quanto àqueles que já tendem ao desleixo, nem se fala! Essa parece ser uma característica da natureza humana. Tenho tentado observar a relação entre pais e filhos sob essa ótica. Vejo que aquelas famílias que não abrem mão de uma autoridade segura, e cujos pais não se constrangem por deixar os filhos com certo medo das consequências do que fazem, conseguem um respeito muito mais saudável do que os que, em nome do liberalismo e dos novos tempos, querem o amor dos filhos como prêmio por serem “bonzinhos”.
Estou convencido de que o respeito se forja, de algum modo, também através do medo. Nas famílias que trabalham isso com mais maestria, o medo do filho  acaba sendo mais de decepcionar os pais, a quem ele ama e respeita com sinceridade, do que propriamente de receber um castigo que , de qualquer modo, deve acontecer sempre que necessário. Essa me parece uma pedagogia valiosa, que, infelizmente, tem sido esquecida. Fruto desse esquecimento é a falta de respeito que impera em todos os âmbitos da vida, nas relações familiares e de trabalho, no namoro, na relação com as autoridades em geral.
Há muitos anos ouço que, na Europa, basta o pedestre colocar o pé na faixa que os carros param. Será que é por que eles, naturalmente, têm uma índole melhor que a nossa? Com certeza não, porque o ser humano é basicamente o mesmo, em qualquer lugar. A diferença é que lá a multa vem mesmo, as leis existem para serem cumpridas. Quando o nosso código de trânsito entrou em vigor, o medo da repressão provocou certa onda de respeito e gentileza, logo substituída pela certeza da impunidade, porque, na essência, nada tinha mudado, apenas algumas palavras no papel. Nossa educação precisa evoluir na direção dessa maturidade moral, o que não acontecerá sem um exercício efetivo da autoridade na aplicação das leis. Sem isso, os princípios se esvaziarão cada vez mais e essa selva se tornará ainda mais densa. Respeito é bom e todo mundo gosta!

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