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José Francisco dos Santos
Filósofo e professor
Minha
mãe nasceu no norte de Minas Gerais, no início da década de 1920. Nunca foi à
escola, porque meu avô entendia que mulher não carecia de saber ler e escrever.
Casou-se com meu pai e vieram para o norte do Paraná, na década de 1940, para
trabalharem nas lavouras de café. Como sou o último de uma prole de dezesseis
irmãos, dos quais sobreviveram doze, não vivenciei o período das quase anuais
migrações entre uma fazenda e outra. Da minha infância, lembro-me dela, já
quase sexagenária, trabalhando de empregada doméstica durante o dia e, não
poucas vezes, limpando escritórios nas fábricas de móveis à noite, para que não
nos faltasse o necessário. Fui cedo para o seminário, o que, depois de um
tempo, acabou me trazendo a Brusque. Quando deixei o seminário, fiquei no
dilema entre voltar para lá e ajudar a cuidar dela e de meu pai ou dar
prosseguimento aos meus projetos de vida, que incluíam a formação filosófica já
iniciada. Como na música que diz “que depois que cresce, o filho vira
passarinho e quer voar”, eu, que já havia deixado o ninho tão cedo, sentia que o
futuro, do modo como eu o concebia para mim, não incluía essa volta. Fiquei, e
mesmo sabendo que ela era cuidada pelas minhas irmãs, sempre mantive, num canto
escondido da alma, um sentimento de culpa por essa distância. Minha mãe faleceu
em 2002, mas esse sentimento permaneceu, como uma dúvida sobre o que eu poderia
ou não ter feito a mais em benefício dela.
Mas
já me libertei dessa neura! Afinal, o que minha mãe poderia querer de mim senão
o que fosse melhor para mim? Que felicidade ela teria com minha presença se
sentisse que, por causa disso, eu estivesse comprometendo meus próprios
projetos? É claro que se ela dependesse dos meus cuidados tudo seria diferente,
mas esse não era o caso. Tenho certeza de que minha mãe estava e continua
estando muito satisfeita comigo, porque minha realização e minha felicidade são
o maior presente e a maior homenagem que posso lhe prestar.
Acredito
que a melhor maneira de agradecer a vida que recebemos de nossos pais é fazer
com que ela valha a pena. Pode ser que haja dissensões pontuais entre o desejo
dos pais sobre o futuro dos filhos e o que estes realmente pretendem para si.
Mas, no fluxo do tempo, a única coisa que interessa é que o filho se realize,
que seja feliz, que sinta que a vida recebida é realmente uma dádiva que não
pode ser desperdiçada, mas que deve ser aprimorada com amor, honestidade e
sabedoria. Dessa forma, independente de quanto dinheiro se ganha ou de qualquer
outra conquista, os pais saberão que todo sacrifício terá valido a pena.
Se
você quer realmente acertar no presente da sua mãe, então valorize sua vida,
fique longe das drogas, dos vícios, da malandragem e de qualquer coisa que
suprima sua liberdade ou sua dignidade. Faça sua vida brilhar, e o coração da
sua mãe fulgurará como um diamante raro.
Mas
isso não impede que você também abra a mão e compre alguma coisinha para ela,
né?
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