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José Francisco dos Santos
Filósofo e professor
Filósofo e professor
A
palavra “aristocracia” designa o que é normalmente traduzido por “governo dos
nobres”. A nobreza, desde os tempos antigos, era uma nata de privilegiados, que
governavam as cidades antigas, ao lado dos reis. Nas antigas cidades da Grécia
e nas primeiras fases da história de Roma, essa elite detinha um enorme poder.
Quando os reis inventavam de se aliar aos chamados “plebeus” para desafiar o
poder da aristocracia, costumavam “abotoar o paletó” antes da hora. Os nobres eram considerados, de alguma forma,
descendentes sanguíneos dos deuses, o que fazia deles naturalmente superiores
às pessoas “comuns”.
No
século V a.C, a cidade de Atenas experimentou um governo diferente, que ficou
conhecido como “democracia”, e que permitia a qualquer cidadão ateniense (desde
que homem, adulto e livre) participar das assembleias, opinar, votar.
Registre-se que os grandes filósofos gregos não gostavam dessa democracia.
Platão, descendente de uma família aristocrática, considerava-a o governo dos
medíocres. Para ele, a cidade ideal seria governada por um filósofo. Aristóteles
se inclinava mais para um tipo de monarquia constitucional. Ou seja, democracia
nunca foi unanimidade, principalmente no meio intelectual.
Ora,
a filosofia “iluminista” do século XVIII trouxe de novo à tona a ideia de que o
poder vem do povo e que a soberania da nação é confiada aos governantes pelo
consentimento de todos os seus cidadãos. Com isso, criou uma arma poderosa
contra o mundo aristocrático do chamado Antigo Regime, o que era ótimo para a
burguesia, mas abriu uma série de expectativas para o povo mais simples, o que
frequentemente entra em choque com os interesses das elites econômicas ou
intelectuais. A história dos séculos XIX e XX mostra como as elites burguesas
controlaram rapidamente o poder, indicando que a tal “igualdade” prometida não
era exatamente o que as massas imaginavam.
Também
vieram os socialistas, que igualmente se consideram intérpretes da vontade do
povo. A fúria com que as estátuas de Lênin caíram no fim da União Soviética, há
vinte e poucos anos, e a falta de liberdade em Cuba permitem verificar que o
socialismo é bem menos popular do que seus líderes gostariam que fosse. Quando a vontade do povo contraria o pensamento
das tais elites, a democracia se mostra desinteressante, já que o povo “quer
errado”. O povo é contra o aborto, é contra invasões de terra, tem um senso
religioso aguçado. Isso, segundo algumas “elites”, é sinal de despreparo e
ignorância. Quando vejo o país adotando tantas regras que são contrárias ao
pensamento e ao sentimento da maioria do povo, fico seriamente preocupado. Eu
reconheço os inúmeros problemas do sistema democrático. Mas, com todo respeito
a Platão, prefiro a vontade popular sendo ouvida que a prevalência de qualquer
tipo de elite, sobretudo intelectual, porque costuma confundir ideologia com
ciência e se deixa manipular facilmente por interesses escusos. Se ainda
consideramos a democracia um valor a ser preservado, convém ficarmos mais
atentos às manobras políticas dos que se consideram melhores e mais preparados.
Do contrário, estaremos retornando ao governo de uma nova aristocracia, de
nobreza pra lá de duvidosa.
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