A
imperfeição é marca registrada da nossa humanidade. Creio que, em alguma outra
dimensão, experimentaremos uma vida perfeita. Mas enquanto estivermos sujeitos
à lei da gravidade, à ação do tempo, aos nossos hormônios e humores e às
circunstâncias diversas que não podemos controlar, inevitavelmente estaremos
nos movendo em meio à imperfeição e ao limite.
É
certo que somos chamados a caminhar na direção do aperfeiçoamento, mas o que
liga nosso estado atual a esse ponto ideal que buscamos é uma corda bamba. Daí
que a arte da vida é saber se equilibrar durante o caminho. Aquele que quiser se
manter hígido demais não resistirá às primeiras balançadas.
A
falta do equilíbrio se manifesta, por um lado, no conformismo com o que é
defeituoso, o que gera preguiça (ou é gerado por ela), de modo que a pessoa se
acostuma demais à imperfeição sua e dos outros, em nada contribuindo para
melhorar a própria vida e o seu entorno. Por outro lado, o excesso na exigência
de perfeição aos mínimos detalhes gera um stress
desnecessário e inútil. Desnecessário porque podemos poupar energia ao não
pretender uma perfeição que não existe. Inútil porque, por mais que nos
debatamos, pouca mudança positiva produzimos em nós mesmos e nos outros com
nosso excesso de exigência. Mudanças efetivas levam tempo, e o tempo de cada um
não pode ser determinado de fora. É mais econômico compreender que aturar
nossas próprias imperfeições e as dos outros, enquanto tentamos todos nos
equilibrar nos caminhos da vida, faz parte do jogo da existência. E se você
ainda está vivo e lendo este texto, é sinal de que vem se equilibrando de algum
modo, e pode aprender a sofrer menos nessa travessia, por não exigir mais do
que o razoável. O engraçado é que quem é exigente demais consigo mesmo e com os
outros, nos mínimos detalhes, age assim por medo de cometer erros, o que é um
contrassenso.
Ademais,
se olharmos com atenção, veremos que temos muito motivos para nos alegrarmos, que
o fato de estarmos vivos já é uma bênção. Mas temos a mania de focarmos o olhar
no que é negativo, no sofrimento momentâneo, exigindo para agora o que demanda
tempo. Podemos reclamar das obras da cidade e dos transtornos que causam, mas
podemos também focar a atenção no fato de que, afinal, obras realmente
necessárias estão sendo empreendidas. Podemos reclamar das imperfeições que
ainda existem na cidade ou no país, mas frequentemente nos esquecemos de como
evoluímos e de como era complicado viver e trabalhar nesse país há duas
décadas.
Equilibrar-se
na travessia é também tentar focar o olhar no que é bom, sem nos esquecermos do
que precisa ser melhorado. Podemos evitar muito sofrimento psicológico com essa
pequena mudança de atitude, que, reconheço, não é nada fácil. O detetive Monk é
um exemplo do extremo a que o desejo de perfeição pode nos levar, mas também
não precisamos ser tão desleixados e fracos como o tenente Randy, seu colega
atrapalhado da polícia. Apesar dos problemas e das dificuldades pontuais que
enfrentamos, não é saudável que gastemos parte considerável do nosso tempo
insatisfeitos e reclamando. A alegria é um dos sintomas de quem se equilibra
com alguma destreza na corda bamba da vida. Se a sua estiver muito abaixo da
medida, convém rever o percurso.
Fonte: http://www.municipiomais.com.br/site/
Fonte: http://www.municipiomais.com.br/site/
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