terça-feira, 3 de abril de 2012

Perfeição e equilíbrio - José Francisco dos Santos

A imperfeição é marca registrada da nossa humanidade. Creio que, em alguma outra dimensão, experimentaremos uma vida perfeita. Mas enquanto estivermos sujeitos à lei da gravidade, à ação do tempo, aos nossos hormônios e humores e às circunstâncias diversas que não podemos controlar, inevitavelmente estaremos nos movendo em meio à imperfeição e ao limite.
É certo que somos chamados a caminhar na direção do aperfeiçoamento, mas o que liga nosso estado atual a esse ponto ideal que buscamos é uma corda bamba. Daí que a arte da vida é saber se equilibrar durante o caminho. Aquele que quiser se manter hígido demais não resistirá às primeiras balançadas.
A falta do equilíbrio se manifesta, por um lado, no conformismo com o que é defeituoso, o que gera preguiça (ou é gerado por ela), de modo que a pessoa se acostuma demais à imperfeição sua e dos outros, em nada contribuindo para melhorar a própria vida e o seu entorno. Por outro lado, o excesso na exigência de perfeição aos mínimos detalhes gera um stress desnecessário e inútil. Desnecessário porque podemos poupar energia ao não pretender uma perfeição que não existe. Inútil porque, por mais que nos debatamos, pouca mudança positiva produzimos em nós mesmos e nos outros com nosso excesso de exigência. Mudanças efetivas levam tempo, e o tempo de cada um não pode ser determinado de fora. É mais econômico compreender que aturar nossas próprias imperfeições e as dos outros, enquanto tentamos todos nos equilibrar nos caminhos da vida, faz parte do jogo da existência. E se você ainda está vivo e lendo este texto, é sinal de que vem se equilibrando de algum modo, e pode aprender a sofrer menos nessa travessia, por não exigir mais do que o razoável. O engraçado é que quem é exigente demais consigo mesmo e com os outros, nos mínimos detalhes, age assim por medo de cometer erros, o que é um contrassenso.
Ademais, se olharmos com atenção, veremos que temos muito motivos para nos alegrarmos, que o fato de estarmos vivos já é uma bênção. Mas temos a mania de focarmos o olhar no que é negativo, no sofrimento momentâneo, exigindo para agora o que demanda tempo. Podemos reclamar das obras da cidade e dos transtornos que causam, mas podemos também focar a atenção no fato de que, afinal, obras realmente necessárias estão sendo empreendidas. Podemos reclamar das imperfeições que ainda existem na cidade ou no país, mas frequentemente nos esquecemos de como evoluímos e de como era complicado viver e trabalhar nesse país há duas décadas.
Equilibrar-se na travessia é também tentar focar o olhar no que é bom, sem nos esquecermos do que precisa ser melhorado. Podemos evitar muito sofrimento psicológico com essa pequena mudança de atitude, que, reconheço, não é nada fácil. O detetive Monk é um exemplo do extremo a que o desejo de perfeição pode nos levar, mas também não precisamos ser tão desleixados e fracos como o tenente Randy, seu colega atrapalhado da polícia. Apesar dos problemas e das dificuldades pontuais que enfrentamos, não é saudável que gastemos parte considerável do nosso tempo insatisfeitos e reclamando. A alegria é um dos sintomas de quem se equilibra com alguma destreza na corda bamba da vida. Se a sua estiver muito abaixo da medida, convém rever o percurso.

Fonte: http://www.municipiomais.com.br/site/


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